quarta-feira, 22 de agosto de 2018

AVISO

Amados irmãos de Belo Horizonte-MG,
Com a graça de Deus e a benção de Dom Chrisóstomo, Arcebispo Ortodoxo do Rio de Janeiro e Olinda-Recife, ocorrerá no dia 25 deste mês, sábado, a celebração da Sagrada Liturgia, as 09h30m.
Convidamos todos aqueles que tem o desejo de conhecer a expressão máxima da fé Ortodoxa, a Sagrada Littugia. 
A Liturgia ocorrerá no seguinte endereço: Instituto Farina - convento das irmãs Dorotéias, Rua Jordânia, 300 - Bairro Ouro Preto - BH

Homilia do Evangelho do 9º Domingo após o Pentecostes (Mt. 14:22-34), Arcebispo Dom Chrisóstomo

Amados Irmãos o Evangelho que acabou de ser proclamado é por demais conhecido de todos nós. Muito já se falou do simbolismo e significado espiritual da barca, da turbulência no meio da noite, de Pedro andar sobre as águas e Cristo vir ao encontro da barca. Mas na narrativa deste episódio um detalhe pode passar despercebido.

Imagem relacionadaNosso Senhor Jesus Cristo, antes de partir na noite, ao encontro dos Seus Apóstolos, se recolheu para orar. Às vezes, quando lemos esta passagem, não prestamos atenção a este detalhe, e é o caso de se perguntar: por que Cristo se recolhia para orar? E os evangelhos narram vários momentos em que Ele fez isso. Sendo Deus Ele precisa de orações? Sim, cabe a pergunta, porque normalmente nós entendemos a oração como pedidos a Deus, como se a oração fosse uma espécie de medicamento imaterial para nossas mazelas. Não existe um adesivo de carro: “Ora que melhora” . É verdade que a oração também é súplica. Na Sagrada Liturgia também fazemos súplicas, nas nossas litanias, pedimos pelos doentes, pelos prisioneiros, pelos viajantes, pelos que se encontram em perigo, mas também temos orações de louvor, temos orações de graças. Ou seja, uma oração com outro teor. É a isso que temos que prestar atenção, e esta passagem do Evangelho, contém uma boa pedagogia a respeito.

Pois vejam, a oração não é só para pedidos e súplicas. São João Chrisóstomo diz não entender porque as pessoas dizem que têm diGiculdade para orar, porque o homem foi criado para a oração. Deus não criou o homem para viver só. Deus criou o homem para a comunhão, para o diálogo de amor, e Deus é puro Espírito, e o diálogo com Deus é oração. João Chrisóstomo dizia que a oração é o estado natural do ser humano, ou deveria ser. O problema é que houve a queda e a nossa natureza foi afetada, esse é o nosso problema, porque no mais profundo da nossa alma, como diz São Basílio, nós ansiamos por este diálogo de amor. Daí tanta carência que vemos no mundo. Carências que se apresentam de diversas maneiras Na verdade existe é a necessidade desse amor espiritual, do alimento espiritual, e muitas vezes se confunde isso com carência afetiva, ou qualquer outro tipo de carência possível nos nossos tempos. Os padres do deserto falam da oração de duas formas diferentes, que querem dizer a mesma coisa: a oração é entregar-se nas mãos de Deus, para conhecer a pessoa que somos; a outra forma de dizer a mesma coisa é: a oração é um mergulho dentro de nós próprios, para nos encontrarmos com Cristo.

Se entendermos a oração dessa forma, vamos também entender São Pedro quando diz: “Senhor, bom é estarmos aqui…” (Mt.17,4). Vamos entender as palavras do Profeta quando diz: “Eis-me aqui” (1Samuel 3,4).

Nosso Senhor Jesus Cristo recolheu-Se em oração apenas para estar com o Pai. Estar com o Deus é bom, é salutar, nos recompõe, restaura a nossa pessoa à imagem e semelhança do Criador. Podemos, e devemos, orar apenas porque é bom, para estarmos alguns instantes diante e próximos do Bem supremo. A oração é principalmente este momento íntimo, secreto, místico de diálogo com Deus, e isso se faz recolhido, no silêncio, só, mergulhando-se dentro de si mesmo, buscando ver o que surge aqui de dentro, repetindo as palavras da oração, quase como se fosse saboreando-as: “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim”. É uma súplica, mas antes de tudo um momento de encontro íntimo entre nós e Deus, e esse momento de encontro íntimo nos recupera, nos restaura, nos transfigura. É necessário se fazer esse exercício de oração, porque, pelo ponto de vista espiritual, a consequência, em cada um de nós, da expulsão de Adão e Eva do Paraíso, é termos todos os nossos sentidos, a nossa mente, os nossos pensamentos voltados para as coisas cá de fora (do mundo). Nosso espírito está voltado para o exterior.

Temos a necessidade de nos preocupar, querer saber, resolver e nos envolver com tudo o que se passa fora de nós, a nossa volta. Isso é a expulsão do Paraíso em nós. É necessário fazemos o caminho de volta. No início é diGícil, é doloroso. Essa é a nossa maior batalha. Quando se diz que o Reino dos Céus será tomado por assalto (à força) ou quando se diz que os cristãos são soldados de Cristo e que o nosso maior inimigo somos nós próprios, é disso que estamos falando. Quando tentamos mergulhar em nós próprios na oração, vamos lembrar da água sanitária, das compras, do trabalho, de tudo na vida. Surgem cheiros, sons, até comichão. Vem um danado de um sono, porque é também muito comum pegar num rosário e cair dormindo. Temos que lutar contra tudo isso. Aprender a estarmos serenos, tranquilos e satisfeitos de estar ali, naquele silêncio.

No inicio, quando fechamos os olhos e penetramos dentro de nós próprios vemos uma escuridão, uma escuridão turbulenta, é a imagem das águas do Evangelho, sobre as quais Cristo caminhou naquela noite. Mas se tivermos vontade, e vontade nesse caso é expressão do amor a Deus, se quisermos realmente um encontro de amor com Deus, então continuamos tentando. Se não conseguimos hoje, vamos conseguir amanhã, se não conseguir amanhã continuamos depois de amanhã e continuamos assim, tentando. É assim que se ama, querendo, buscando. Os santos Padres da Igreja usam uma imagem da oração como se fosse um orvalho da noite num deserto ressecado. Vem o sol no dia seguinte e seca tudo de novo, mas volta a noite e de novo o orvalho. Se insistirmos, um dia virá a chuva, e essa chuva vai molhar a terra, e um dia essa terra será o leito de um rio de águas transbordantes. É a promessa que o Cristo fez a Samaritana no poço de Jacó. É ao mesmo tempo o chamado de Deus, a verdadeira vocação do homem.

Nos momentos de angústia e tribulação, é mais do que justo e lícito que peguemos no rosário, ajoelhemos diante do ícone e supliquemos chorando pela nossa salvação, pela cura de doenças, pelo próximo, por exemplo. Isso é uma forma de abrir a alma diante de Deus e nossa oração será tão eficaz quanto mais verdadeira e fervorosa ela for. Mas a oração não é só isso. Não nos concede apenas o que pedimos. Antes de tudo nos devolve, nos resgata ao nosso estado primitivo, ao nosso estado original de verdadeiros seres humanos, criatura de Deus, que vai ao encontro do Seu Criador, que vai ao encontro do Amado, do amor sublime.

Deus fez o homem para o diálogo e o diálogo com Deus é espiritual, porque Deus é Puro Espírito. Deus é a própria Santidade. Esse diálogo só é possível entre os santos e Deus, e Deus nos criou para isso, para que sejamos santos. A fome mais íntima que temos na nossa alma é de sermos santos, é de encontrar a plenitude da vida, a serenidade. É isso que todo homem quer e precisa. Alguns se distraem, achando que vão encontrar isso em outras coisas. As coisas que são do mundo também são necessárias, mas não se pode fazer confusão. Temos que saber que temos que realizar a nossa vocação, de, como criaturas de Deus, viver uma vida de amor espiritual. A oração é o caminho, o meio que nos restaura, ou que nos transfigura, que nos instala como verdadeiros seres humanos, como verdadeira pessoas, como verdadeiras criaturas de Deus. E eu vos exorto à oração, que se recolham em silêncio, se preparem para que, tranquilos, fiquem o tempo que se puder ficar, nesse momento de encontro de silêncio, de paz, de serena felicidade.

Então estaremos nos recompondo, fazendo o caminho contrário ao do pecado, e estaremos preparados para no Reino dos Céus reconhecermos a Cristo como nosso Senhor e Salvador e com uma pronta alegria dizer: “eis-me aqui e como é bom estar aqui”
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Dom Chrisóstomo Arcebispo do Rio de Janeiro e Olinda-Recife



quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Em busca da Ortodoxia



... Jesus lhe disse: “Você não está longe do Reino de Deus”.  Mc 12, 34
“Mas eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim” (João 12:32).

"Assim como um abade disse que os motivos porque adentrou num mosteiro foram variando ao longo dos anos, de forma que aquilo que o impulsionou a entrar já não era mais o que o fazia permanecer, sinto-me compelido a essa mesma justificativa quanto à minha entrada na ortodoxia. 

Minha busca objetiva pela ortodoxia começou há mais de uma década, embora possa afirmar que intuitivamente sempre existiu dentro de mim um anseio por essa ortodoxia que eu nem mesmo sabia que existia. 

Meu primeiro contato se deu ao acaso providente, quando em busca de maiores informações sobre o apóstolo São João (que creio ter sido meu intercessor espiritual nessa busca), me deparo com a beleza cortante de padres ortodoxos paramentados em celebração de um ofício. Eram os monges de Patmos numa solene véspera de pentecostes. “A beleza salvará o mundo”, teria intuído Dostoievsky em vários trechos de seus romances. Mas aqui não se trata apenas de exacerbação do culto das formas ou de um esteticismo aprisionado na matéria; mas sim de uma intuição profunda que vê o sagrado refletido na criação. De uma realidade que transborda pelo visível, mas que é ela mesma invisível aos olhos carnais. Na boca do ateu Ipolit, Dostoievsky lança uma intrigante questão ao príncipe Mynski: como “a beleza salvaria o mundo”? Diante a questão filosófica-silogista o príncipe (como boa imagem de um cristão verdadeiro) nada diz, mas se coloca junto a um jovem de 18 anos que está a agonizar e fica cheio de compaixão e amor até ele morrer. Essa cena revela que a beleza é o que nos leva ao amor condividido com a dor (Deus assumiu para si a nossa sorte: Jesus é a encarnação da misericórdia divina que sofre a dor humana para daí libertar o homem de seu maior inimigo: a morte!).
Nesse sentido, também, minha busca pela ortodoxia era uma busca pela vitória sobre a morte. Na Igreja latina experimentei fortemente a força da paixão, do Cristo da sexta-feira santa, mas os domingos pascais pareciam embotados na vivência litúrgica paroquial. A ênfase no Cristo humano histórico, solidário aos homens e portador de uma mensagem inspiradora parecia sobrepujar o Cristo vencedor, que foi ao hades e de lá ressurgiu para atrair a todos e ascendê-los à uma vida divina. 

O que Cristo fez é de tal magnitude que não podemos inscrevê-lo ao lado de outros fundadores religiosos num sentido horizontal. O cristianismo inteiro de alguma forma intui isso e faz denotar esse caráter de exclusividade, mas depois de duras revoluções no ethos ocidental a visão latina tem tendido sempre a nivelar Jesus a outros líderes religiosos, bem como a parear o cristianismo com outros sistemas espirituais para assim angariar simpatias e boa vizinhança.  A páscoa ortodoxa não encontra equivalência em todo o restante do cristianismo. O esplendor e a manifestação explícita do Cristo ressuscitado e vencedor da morte, do pecado e do diabo deixou de ser o centro do mistério cristão latino, cedendo espaço para uma apreciação mais humanista e, por vezes, mesmo piegas.

Quando, depois de alguns anos procurando pela ortodoxia, participei da minha primeira divina liturgia, senti que uma força espiritual irradiava dali. Como a hemorroíssa que apenas ao toque na veste de Jesus é curada porque Jesus possuía uma força em si, assim senti que naquela divina liturgia havia uma força que emanava não à custa de expressões forçadas, de palavras improvisadas, de gestos inovadores e criativos, mas de um gracioso tesouro recebido e transmitido ao longo dos séculos. De uma vida que aprendeu a confiar em Deus e em sua misericórdia. 

A Igreja ortodoxa não me parecia apenas um nicho de velhas tradições e sentimentos nostálgicos por uma arqueologia religiosa e sim algo vivo e dinâmico, concreto e muito cônscio daquilo que possui como herança transmitida pelo próprio Senhor aos seus apóstolos e que por sua vez transmitiram (à custa de suor, sangue e Espírito) tal fé à posteridade dos cristãos.

Procurei pela ortodoxia durante muito tempo mesmo sem saber que ela existia; e ao vê-la diante de mim foi como se houvesse retornado à minha casa natural, à fé que – de alguma forma – meu coração sempre ansiou com todas suas forças. 

Venho da Igreja romana e desfazer meus laços com ela não foi tarefa fácil. Me enchi de pudor e receio de estar me enveredando por um caminho de ilusão, de uma busca fantasiosa. Temi ser traidor. E, creio, que esse seja um peso comum e uma barreira a ser ultrapassada por aqueles que ousam uma busca pela verdade. 
Existe, na busca por uma fé ortodoxa, o perigo de transformamos a ortodoxia em algo meramente externo. Ortodoxia não pode estar desligada de ortopraxia: fé e vida precisam caminhar juntos! Não raras vezes buscamos fora aquilo que está faltando dentro, buscamos ver realizado no mundo aquilo que fracassou dentro de nós mesmos. 

Frente a esse impasse, duas coisas justificaram meu caminho interiormente: a busca mais profunda por um catolicismo naquilo que é mais característico e a busca por um caminho mais “perfeito” de viver a fé cristã. Onde estava preservado e onde era melhor transmitido aquele pensamento católico mais vigoroso? Em meio a todo pensamento neoliberal e antropocêntrico que invadiu mesmo as nações cristãs, descobri que a ortodoxia é aquela que ainda tem a coragem de afirmar uma fé que é escândalo para os padrões do mundo decaído. 

São João Cassiano ao adentrar nos desertos do Egito em busca de uma melhor vida monástica se encanta com o que lá viu. Fica, porém, retido no seu desejo de maior perfeição por medo de quebrar seu voto de permanência em seu mosteiro original. Os anciãos que o aconselham (Cassiano e Germano), lhes garante que a ruptura por anseio de maior perfeição é um ato legítimo
“Bem sabíamos que não consentia
abrir as portas da perfeição 
senão àqueles que a desejavam com fé 
e a procuravam com coração contrito.”

Eu diria que essa foi a regra que permitiu minha conversão à ortodoxia: não era uma busca leviana de um girovago que busca apenas a si mesmo, que não se submete a nenhuma estrutura e que não suporta as falhas alheias, mas uma busca contrita de fé católica em seu vigor original. 

Portanto, afirmo que me tornei ortodoxo afim de permanecer católico. Saí a procura daquela fé transmita pelos apóstolos. Encontrei-me com meu lugar natural que não teme crer na Trindade Santa por mais que isso soe absurdo e irrelevante ao mundo contemporâneo, uma fé que soa anacrônica e por demais enrugada, mas que, não obstante a esse estereótipo segue sua trilha nos passos do seu Senhor que também criou dura inimizade com o espírito desse mundo e que ainda assim amou até o fim.

Cristo ressuscitou! Em verdade ressuscitou! Segue sendo o grito libertador e vitorioso de todo cristão ortodoxo que não mais coloca suas esperanças nas estruturas desse mundo." -- Albino (Rodrigo) Virtuoso, membro da Missão Ortodoxa de S. Cirilo e S. Metódio.

Celebração do matrimônio dos fiéis Albino e Priscila

Aviso: celebração litúrgica

Amados irmãos,  Com a Graça de Deus e a benção de D. Chrisóstomo (Freire), a Missão Ortodoxa de São Cirilo e Metódio terá a celebração da Sa...